quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

"A Paixão Segundo G.H." - Resenha e minhas considerações

Apesar de praticamente nunca postar à respeito, sou uma leitora voraz e comprometida, ano passado fechei o ano na marca de 18 livros, o que prá mim está mais que bom, dá 1,5 livros por mês, em meio à todo o caos de trabalho, da casa, das crianças, e que faço tudo sozinha, que tinha blogs em penca e ainda estava grávida e fazendo tudo em câmera lenta, digamos que sem modéstia alguma, tá muito bom! Confesso, sou uma romântica besta sonhadora e a maioria dos livros que li remetem à sentimentalismos fortes, sejam paixões, relações fraternais,  histórias de superação, de determinação, amizade, ou mesmo romances melados, esse é o meu clube. Amo, sou apaixonada por poesia e sempre alterno entre os estilos, gosto de literatura introspectiva e por isso falo hoje do livro que mais me marcou em 2010, dela, que lê minha alma, que tantas vezes me descreve com extrema perfeição, Clarice Lispector!
  

Literatura chata e densa para alguns, ininteligível para outros, questão de estilo, de gosto, de sensibilidade, afinidade. Somos íntimas eu e ela, embora ela tenha partido no ano seguinte ao meu nascimento e não saiba disso, boa parte do que escreveu, escreveu prá mim. Já tinha lido quase todos os livros dela, faltando apenas o primeiro "Perto do Coração Selvagem" e "A Paixão Segundo G. H.". E um belo dia, lendo meus blogs favoritos, vejo um sorteio no blog da Van, que oferecia de presente esse livro, me inscrevi e claro, ganhei... kkkkkkkk. Comecei a ler o livro numa fase bem obscura do meu eu, achando que era uma estorinha de amor caliente e adocicada, nada... larguei, não dei conta. E só voltei a ler novamente há pouco tempo, enfim terminei.


* Minha visão do livro

De início nojo completo, poderia estar lendo coisas fofinhas e cheirosas, com imagens lindas, paisagens e coisas meigas, mas não, quis ler o livro da barata esmagada dentro do armário... comecei a ler as primeiras páginas e não gostei nada, fugia muito de tudo aquilo de Clarice que eu estava acostumada, mas Clarice é Clarice e sou marrenta, quis ir até o final. É um livro extremamente denso, não é prá relaxar, mas sim prá questionar, fazer pensar, intimista e introspectivo, de certa forma desafiador. A linguagem utilizada é bastante figurativa, cheia de simbologias, e a composição se parece com a narração de um sonho, por várias vezes tive dificuldade em criar as imagens.

Tudo é narrado pela própria G.H., que conta o ocorrido no dia anterior, não se trata de um texto linear, mas de uma narrativa que faz o tempo parar e isso em muitas partes achei extremamente chato e cansativo, tive que parar e desopilar do livro. O evento contado no livro inteiro, na verdade se passa em algumas poucas horas e a experiência da personagem mostra claramente uma mudança no modo de ser dela, antes e depois do episódio ocorrido com a barata. À partir de um fato aparentemente banal ela aborda aspectos de religiosidade, de crença, questiona  o existencialismo com muita profundidade e mistério.

Sempre digo que a arte de qualidade ou impressiona ou incomoda, defino assim essa obra, no mínimo incômoda, não tem início, não tem fim, é extremamente prolixa e reflexiva. Ao leitor fica a tarefa de refletir sobre a narrativa, pois são variadas as possibilidades de compreensão abertas pelo texto, que na minha opinião de curiosa literária pode ser analisado em termos psicológicos, sociais, existenciais, filosóficos e também religiosos.

Se você quer ler algo prá relaxar, distrair a cabeça, estórias com começo/meio/fim não indico como sendo esse o livro, mas posso dizer que a criatividade na montagem do texto, na descrição das imagens foi tanta que tive dificuldade de acompanhar e por várias vezes tive que reler alguns trechos porque me perdia nas idas e vindas da narrativa. Me despertou emoções diversas, de repulsa, autoanálise, introspecção, senti um certo incômodo em várias passagens, confesso. Acho que a gente estranha tudo aquilo que não vai de encontro à nossos valores e a forma como pensamos e vemos certas situações e sentimentos.

Apesar de tudo, fala muito de amor, de paixão, e talvez eu tenha me mantido firme na leitura por isso, mas que o livro é maçante isso, sem dúvidas. Como tudo é aprendizado, conhecimento e experiência... gostei! Não é meu livro de cabeceira, não é meu preferido, mas mexeu com meu eu complicado, me fez pensar, me fez pesar muitas coisas.

E não poderia deixar de dizer que uma das coisas que mais gosto nessa blogosfera é a interação, as amizades e os vínculos que pouco a pouco vão se formando. Falo aqui de amizades mesmo, desinteressadas e verdadeiras, de pessoas gentis; não de troca de interesses, de caçadores de audiência e de troca de links por conveniência.


Por isso agradeço à Van, pela oportunidade de conhecer essa obra que tanto me acrescentou, que há algum tempo caminhamos juntas, e que hoje tenho a felicidade de ver o livro dela publicado e muito em breve nas  minhas mãos, porque sou mãe e o que mais tenho no umbigo é culpa... e quem não tem que atire a primeira fralda. E da mesma forma que esse livro veio, ele vai, prá alguém que eu gosto muito, uma amizade trazida prá mim pelo Twitter, uma alma muito semelhante à minha, a da doce Dulce, que a maioria conhece como sendo nossa querida @dullim, a minha Moça do Sonho, por quem tenho tanto carinho, lá vai o livro passear na Grande Porto Alegre!


E viram? Até minhas resenhas viram testamentos, não sei fazer nada pequeno, sou um caso perdido... mesmo assim... me amem? E por favor... me leiam? De preferência até o fim... kkkkkkkkkk


Beijos ♥

13 comentários:

JOANA CAMPOS disse...

Oi Tays, passando pra dizer que seu comentário de ontem foi dito e feitto...ele amou a festinha minuscula com os amiguinhos....hj postei fotos...

Beijos e obrigada pela força, tava me sentindo tão assim por nao poder festa....Obrigada mesmo.

Joana Campos

Giuliana: disse...

Tays,

Você escreve maravilhosamente bem. Mesmo sendo um post gigante, li até o fim, e confesso que nunca li nenhum livro de Clarice Lispector, apenas frases e textos soltos. Mas talvez não seja por este que devo começar..=]

Beijos

Terla disse...

To no mesmo barco que a Giuliana.. talvez seja hora de ter minha propria opiniao sobre os livros de Clarice.
Adorei a parte de ela ter feito pra ti os textos e tals.A gente se sente assim as vezes né

Regina Laura disse...

Tays, eu adorei sua resenha do livro.
Confesso que é um de meus preferidos da Clarice Lispector.
Como tudo que ela escreve, é denso e introspectivo. Tem que se ler com a alma. Não com o cérebro, o que não é tarefa fácil.
E você escreve muito bem viu?
Estou também muito curiosa para ler o livro da Vanessa.
Haja culpa no mundo materno..rs
E tenho que dizer mais uma coisa. Sua foto do perfil está linda!
Beijo grande

Luci Cardinelli disse...

Eu sou uma apaixonada por ela. Assim como você sente, tb sinto ela falando de mim,lendo minha alma. Fui apresentada a ela pela Maria Bethânia, q declamava trechos dela, eu tinha 16 anos e meu primeiro livro foi Água Viva, e meu preferido até hoje.

beijos e adorei sua resenha viu?

Asas à imaginação disse...

Tays,leio tudo que você escreve até o fim...você escreve muito bem e mesmo escrevendo muito(você que diz...não eu) você teve a capacidade de,numa pequena postagem,colocar quase que uma vida!
Clarice é mesmo densa mas,extraordinária!!!
Te amo!
Bjsss
Marlei

JOANA CAMPOS disse...

Amiga, Voltei para te convidar para participar do sorteio que tá rolando la no bloguito!

Bjs

Joana Campos

Color In the Box disse...

aaaiiii que saudades...
Eu leio tudooooooo e AMO, vc sabe !!!!
Te adoro mulher guerreira e feliz !!!
Beijos Coloridos !!!

E agora temos mais uma afinidade... livros... leitura... nao vivo sem !!!
Bjs

Taninha disse...

Ai amiga... TDB esse seu post, viu?!?!?! Já ouviu dizer que é o Livro quem nos escolhe, e não nós quem o escolhemo???? Já, né?!?!?!! Então... existem momentos da nossa vida que tentamos ler um livro, mas não passamos do primeiro capítulo... não é o momento daquele livro para nós. Então o deixamos ali na prateleira até que ele nos chame. E quando chega essa hora é exatamente isso que acontece, o que vc postou aqui. Conseguimos assimilar cada palavra, e lemos com o coração realmente. E Clarice é assim... Emoção, sensibilidade, delicadeza de sentimentos, profundidade... Saudades docê!!!!! Te amo amiga!!!!
Bjsssssssssss
Taninha

Dulce Miller disse...

OMG... Salvei nos favoritos e nunca mais lembrei de voltar, se não fosse teu recado no Twitter hoje... Tô morrendo de vergonha, mil perdões querida!

Dulce Miller disse...

Tô comentando do meu celular doido porque tô trabalhando, então tem que ser por partes! Kkkk O fato é que tua resenha ficou ótima e eu já tô maluca pra ler o livro e fazer no blog minha própria resenha dele! AMO Clarice ;-)

Dulce Miller disse...

Assim que receber o livro com teu endereço já quero enviar o teu presente. Por acaso tu já leu A hora da Estrela? Já fiz a resenha dele no meu blog no ano passado, acho, foi o último livro que Clarice publicou antes de morrer!

Dulce Miller disse...

Obrigada, obrigada, mil vezes obrigada! Ótimo final de semana pra ti e pros filhos lindos! Beijos n'alma